Cha-u-Kao foi uma artista francesa que atuou no Moulin Rouge e no Nouveau Cirque na década de 1890. Inicialmente acrobata, contorcionista e bailarina, Cha-u-Kao amava outras mulheres, era lésbica assumida, e se transformou em uma famosa palhaça do Moulin Rouge. Foi protagonista de uma feliz série de desenhos e pinturas produzidas por Henri Toulouse-Lautrec em 1895.
Pesquisa realizada por: Juliana Thiré (Discente de Teatro da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO)
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O que sabemos sobre ela? Tão pouco! Sem Lautrec quase não haveria mais vestígios (algumas fotos raras) dessa mulher a quem ele ofereceu uma “eternidade” em alguns dos maiores museus … Qual era o seu nome verdadeiro? De onde ela veio? Há suspeitas de que ela era cambojana (sudeste asiático)… Mas por que não despertou qualquer busca por qualquer pessoa que queira reviver o glorioso passado do Moulin Rouge?
Sabe-se que ela se apresentou no Nouveau Cirque na rue Saint-Honoré, um estabelecimento muito elegante graças à sua iluminação elétrica e sua pista retrátil que podia ser transformada em uma piscina. O Novo Circo, que gostava de exibir anões e liliputianos, também costumava pontuar seus shows com aparições de palhaços, entre os quais o famoso Footit e Chocolate.
Quando em 1895 Cha-u-Kao vai se apresentar no Moulin Rouge, ela não é mais a dançarina jovem e esbelta de seus primeiros dias. Os anos enfureceram seu rosto e pesaram seu corpo. É então que não consegue mais seduzir pela sua nudez. Ela se disfarça, fica em pé sobre as pernas, dá uma olhada canalha para a plateia que, por sua vez, põe-se a gargalhar. Ela se torna, neste momento: A palhaça Cha-U-Kao
Uma de suas espetaculares entradas no Moulin Rouge, em 1896, foi registrada em uma pintura de Lautrec. “Montada em uma mula, cercada por guardas, ela descia pelo corredor do Moulin Rouge e chegava à sala, sob os aplausos!”
Lautrec abriu sua série chamada “Elles” (Elles = “Aquelas alí”) com sua imagem. Muitas das prostitutas que ele conheceu estavam envolvidas em relacionamentos lésbicos, e ele achou isso bastante emocionante: “Quando você vê o jeito que elas amam … (isto é) a técnica da ternura…” O pintor ficou fascinado por essa mulher que ousou escolher a clássica profissão masculina de palhaçadas e não teve medo de declarar abertamente que era lésbica.
Provavelmente inspirado por um precedente japonês do século XVIII, “Elles” provou ser um fracasso comercial para seu editor – Gustave Pellet, especialista em erótica – porque não transmitia uma fantasia erótica, mas um retrato íntimo das mulheres que Lautrec conhecia em primeira mão e do ambiente. em que eles viviam e trabalhavam.
Cha-u-Kao é a transcrição fonética de “chahut e caos” (barulho e caos), adiantando, já pelo pseudônimo, a transbordante vitalidade da persona. Chahut, título da célebre pintura de Seurat, representou também o desenfreado cancã, que teve a atenção do público internacional do Moulin Rouge, onde a palhaça se apresentava.
Referências Bibliográficas:
Mademoiselle Cha-u-kao, The Seated Clowness (Mademoiselle Cha-u-kao, La Clownesse assise) from Elles. 1896. MoMA. Disponível em: <https://www.moma.org/collection/works/63510 >. Acesso em 23 jan. 2019.
Cha-u-kao, La Clownesse. Montmartre Secret. Disponível em: <http://www.montmartre-secret.com/article-montmartre-cha-u-kao-la-clownesse-67016963.html >. Acesso em 23 jan. 2019.
Dirty, sexy history. Cha-u-kao. Toulouse-Lautrec’s Montmartre. Disponível em: <https://dirtysexyhistory.com/tag/cha-u-kao/ >. Acesso em 23 jan. 2019.
A história da obra de arte: Henri de Toulouse–Lautrec – “The Seated Clowness (Mademoiselle Cha–u–Kao)”. Disponível em: < http://www.arteeblog.com/2014/11/a-historia-da-obra-de-arte-henri-de.html >. Acesso em 23 jan. 2019