Nome Real: Sebastião Bernardes Souza de Prata
Nascimento: 18 de out de 1917 – Uberlândia
Morte: 26 de nov. de 1993 – Paris
Sebastião Bernardes Souza de Prata, mais conhecido como Grande Otelo é um dos maiores artistas que o Brasil já teve da década de 40. Após passar por uma infância de muitas transições, inicia sua carreira na Companhia Negra de Revista, em São Paulo, e deslancha até contracenar em filmes internacionais, como o de Orson Wells. Ator, músico, humorista e carismático, Otelo conquista o teatro, cinema e o mundo musical, sendo a década de 40 marcada pelo auge no Cassino da Urca, suas realizações cinematográficas pela produtora Atlântida e suas participações em programas humorísticos da TV.
Pesquisa realizada por: Antônio Valladares (Discente de Teatro da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO)
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Mais sobre sua biografia:
Grande Otelo, nascido em Uberlândia, não sabia exatamente a data do seu nascimento. Por isso, escolheu o dia 18 de outubro de 1917, já que tinha sido batizado nesse dia. Filho de Maria Abadia de Souza, empregada doméstica, e de Francisco Bernardo da Costa, empregado da fazenda da família Prata, foi criado em Uberlândia até os oito anos de idade. Nunca conheceu o pai Francisco, sua única referência masculina foi Chico, seu irmão, filho de Francisco, que morreu na década de 1970 em Brasília.
O nome também foi escolhido por ele. Inicialmente, seu nome de batismo era Sebastião Bernardo da Costa. Ao procurar o cartório para ter a certidão de idade, na década de 30, manteve o Sebastião, mudou o Bernardo para Bernardes, em homenagem ao ex-presidente Arthur Bernardes, tirou o Costa e acrescentou o Souza, da mãe, e o de Prata: Sebastião Bernardes Souza de Prata.
Na sua infância, já demonstrava sinais de um potencial artístico. Além de ser completamente desinibido, costumava cantar para os hóspedes do Grande Hotel de Uberabinha (São Pedro do Uberabinha era como se chamava Uberlândia na época), em troca de um tostão por música.
Em 1925, chega a Uberlândia uma companhia de comédias e variedades. Otelo consegue se apresentar numa de suas peças interpretando um filho de alemão, marcando sua entrada para a companhia. Isabel e Abigail Parecis, mãe e filha, responsáveis pela companhia, ficam encantadas pelo pequeno Otelo e pedem a sua mãe para adotá-lo, levando-o para São Paulo.
Agora instalado em outra família, o ambiente estava repleto de arte. O pai, João Manuel Gonçalves, era diretor e ponto, enquanto que a mãe e a filha eram atrizes. Abigail frequentava aulas de canto das quais Otelo acompanhava. O professor – um italiano contratado pelo governo – se interessou muito por Sebastião Bernardes e gostou de sua voz de tenorino, e ainda previu que ele poderia, no futuro, interpretar o papel de Otelo na ópera de Verdi, por ser negro e ter potencial para ser tenor. Numa entrevista ao programa Roda Viva, em 1987, Otelo diz: “Nunca cresci nem fui tenor, mas nunca mais me livrei de Otelo”.
Incentivado pela família, Otelo fazia apresentações em espetáculos informais, cantando e declamando, sempre fazendo sucesso. Num determinado momento, Abigail e Isabel foram levadas a Itália pelo professor de canto, deixando Otelo sem apoio artístico. Assim sendo, ele acaba se transformando em menino de rua, até ser recolhido pelo abrigo de menores. Passando um tempo, Otelo é adotado por uma nova família, dessa vez por Antônio Queiroz, advogado e professor de direito, marido de Maria Eugênia e pai de Moisés. Porém, o temperamento de Otelo não se adapta aos modelos de sua nova família, sendo devolvido para seu antigo pai, João Manuel.
Pouco tempo depois, a Companhia Negra de Revista chega a São Paulo. Indicado por Oduvaldo Viana, Sebastião entra para a companhia e assim surge, com 10 anos de idade, o artista Pequeno Otelo. Roda o Brasil apresentando em diversas cidades com a Companhia
Os anos se passam e, na virada da década, Otelo continuava se apresentando eventualmente. Em 1934, realizou um de seus maiores sonhos: se apresentar com Jardel Jércolis, no espetáculo “Ondas Curtas”, no teatro Carlos Gomes, Rio de Janeiro. Um ano depois, faz sua estreia no cinema com o filme “Noites Cariocas”, além de participar em três revistas teatrais. É numa dessas revistas, a revista Carioca, que é chamado de Grande Otelo pela primeira vez. Viaja com a companhia de Jardel para Espanha e Portugual.
Em 1938, Grande Otelo entra para o Cassino da Urca, graças ao seu trabalho marcante na interpretação do samba “Boneca de Piche”, ao lado da cantora Déo Maia. Ficou trabalhando no cassino até 1946, quando o presidente Dutra resolve proibir o jogo no Brasil.
Em 1941, a produtora Atlântica Cinematográfica é criada com a qual assina um contrato exclusivo que dura cerca de 20 anos. O primeiro filme gravado na produtora vai ser um de seus maiores sucessos, “Moleque Tião”, já que mostra sua capacidade como ator dramático, além de sua forte comicidade. A década de 40 é um período de muita produtividade artística para Otelo, já que ele trabalhava no cassino, na produtora, no teatro e ainda gravava suas músicas, vencendo o carnaval de 1942 com a composição de seu samba Praça Onze. No mesmo ano, grava um filme inacabado de Orson Wells, “É tudo verdade”, sendo reconhecido pelo diretor como um dos maiores atores do Brasil. Infelizmente, no final da década de 40, sua mulher mata o filho, Chuvisco, e se suicida logo em seguida.
Mesmo sendo conhecido como indisciplinado pelo meio artístico em geral, Grande Otelo era apaixonado pela arte. Watson Macedo, diretor da maioria dos filmes da Atlântida, conta que a famosa cena de Romeu e Julieta no filme “Carnaval no fogo”, interpretado por Otelo e Oscarito, foi no momento em que o ator enfrentava uma forte depressão pós-morte de sua mulher e filho.
Em 1954, casa-se com Olga Vasconcelos de Souza, deixando quatro filhos para a família, já que esta morre, em 1983, vítima de um acidente doméstico. Mesmo com o fim do cassino, não deixou a vida noturna. Foi protagonista de diversas boates como a Monte Carlo, Casablanca, Night and Day e Scala. Trabalhou também, desde 1950, na televisão, sendo contratado oficialmente pela globo em 1966 e permanecendo até sua morte, atuando em novelas, programas humorísticos e musicais.
No cinema, atuou em dezenas de filmes, mas fica marcado por seu papel em Macunaíma, onde ganha diversos prêmios.
Em 1973, surpreende a crítica teatral no seu papel como Sancho Pança, na peça D. Quixote, considerada um dos maiores êxitos da história do teatro brasileiro.
Doze anos depois, recebe o título de Commandeur de l’Ordre des Arts e Lettres pelo governo da França. Em 1993, havia sido homenageado no Festival dos Três Continentes e estava retornando a França para a homenagem quando sofreu de seu segundo ataque cardíaco. O peso de sua vida boêmia não perdoou Otelo, que acabou falecendo nesse segundo ataque. Foi enterrado em Uberlândia.
Referências Bibliográficas:
Acervo Família Othelo. Disponível em < http://www.ctac.gov.br/otelo/frameset.asp?secao=biografia >. Acesso em 07 maio 2018.