Emmy Hennings

Nascimento: 17 de Janeiro de 1885, Flensburg, Alemanha
Morte: 10 de Agosto de 1948, Lugano, Suíça

Emmy Hennings, poeta, atriz e bailarina alemã. Foi uma grande artista de cabaré, ainda que seu nome seja constantemente esquecido. Sua contribuição ao dadaísmo e à fundação do Cabaré Voltaire foram tão essenciais quanto às de Ball, Tzara, Janco, Arp, Duchamp e Picabia. Se faz necessário recuperar os feitos artísticos criados por Emmy, para que não seja mais somente conhecida como “esposa de Hugo Ball”, descrição simplista que é bastante encontrada em artigos e reportagens. Emmy Hennings foi empregada doméstica, casou-se aos 18 anos, se uniu a um teatro itinerante, divorciou-se, teve uma filha, integrou a companhia de teatro Schmidt-Agte em Elmshorn e a companhia teatral de Oskar Ludwig Georg Bröner em Schleswig-Holstein. Foi obrigada a trabalhar na prostituição por um ex-marido. E só depois de divorciar-se pela segunda vez, quando vivia em estadias alternadas entre Berlim e Munique foi que enfim conheceu Hugo Ball.

 

Pesquisa realizada por: Luiza Loroza (Discente de Teatro da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO)

 

Galeria de fotos:

 

Links de vídeos:

https://www.youtube.com/watch?v=vpB2CqXi-Ok

https://www.youtube.com/watch?v=GEBnxWQct24

https://www.youtube.com/watch?v=fkl92oV1kMc

https://www.youtube.com/watch?v=Cv66lfvMI-c

https://www.youtube.com/watch?v=n6DCqE1LI40

 

Poemas:

Depois do Cabaré
Eu vou para casa logo pela manhã
O relógio marca às cinco, já é dia
Mas ainda está acesa a luz no hotel
O cabaré por fim fechado
Em uma esquina meninos aconchegando-se
Já vão ao mercado os trabalhadores
À igreja vão em silêncio
Os sinos tocam nas torres
E uma puta com cachos selvagens,
Perambula ainda por ali, “pernoitada” e gelada
Ama-me de maneira pura por todos os meus pecados.
Olha, eu estou acordada há mais de uma noite.

Segundo poema de Die Letzte Freude (A Última Alegria) 1913
A chuva bate nas janelas.
Uma flor brilha em vermelho.
Ar frio sopra contra mim.
Estou acordado ou morto?
Um mundo está longe, longe
Um relógio bate quatro vezes lentamente.
E eu não sei por quanto tempo
em seus braços eu caio.

 

Mais sobre sua biografia:

Emma Maria Cordsen, conhecida como Emmy Hennings foi uma grande cabaretista do século XX. Uma das fundadoras do Dadaísmo, cresceu em Flesburg. Ali fez a escola primária e logo trabalhou como empregada doméstica. Em 1903 aos 18 anos, casou-se com um ator, com quem uniu-se a um teatro itinerante. Com ele teve uma filha que foi criada pelos avós em Flesburg.

Em 1904, Emmy Hennings se divorciou e trabalhou como intérprete na Alemanha. Em 1905 entrou para a companhia de teatro Schmidt-Agte em Elmshorn. De 1906 a 1908 foi integrante da companhia teatral de Oscar Ludwig Georg Brönner, em Shlewig-Holstein.

Em 1909, Hennings apareceu em Berlim no Cabaret Neopatético do Novo Club. Nesse tempo conheceu o jornalista e escritor Ferdinand Hardekopf, com quem foi casada e realizou uma viagem pela França em 1910. Pouco tempo depois, Emmy Hennings voltou a separar-se, devido ao fato de que ele a havia obrigado temporariamente a prostituição. Depois teve moradias intercaladas entre Berlim e Munique. Em Munique frequentou o Cafe Simplicissimus onde conheceu o poeta Hugo Ball e muitos outros artistas.

Em 1914 foi presa durante vários meses em uma prisão de Munique por prostituição, roubo e suspeita de deserção. Em 1915, pouco depois de sua saída emigrou para a Suiça com Hugo Ball, devido as suas oposições ao crescente nacionalismo do esforço de guerra. Em 1916, em Zurique, inicia-se o Dada, com a colaboração de poetas, pintores, músicos e diversos artistas trabalhando juntos, para produzir não uma obra de arte atemporal, mas um “gesto”. Emmy Hennings, Hugo Ball, Sophie Teuber, Jean Arp, Tristan Tzara, Richard Hülsenbeck, Marcel Janco e outros artistas da época, fundaram o Cabaret Voltaire, o lugar do nascimento do Dadaísmo. Onde Emmy além de dançar, cantou, em sua comovente voz, e recitou poesias (tanto as dela, quanto de amigas). Os temas e lugares recorrentes nas suas poesias são: solidão, cativeiro, êxtase, doença, morte, prisões, hospitais, cabarés, ruas e aflições, prostituição, dependência de droga.

Quando o Cabaret Voltaire fechou, Emmy Hennings e Hugo Ball atuaram em hotéis e pequenos teatros onde Emmy fabricava e interpretava marionetes. Em 1916 juntos criaram o duo artístico Arabella, onde Hennings dançava a música que Hugo Ball compunha.

Ball e Hennings se casaram em 16 de fevereiro de 1920. Não tiveram filhos juntos, porém Emmy levou para o casamento a filha que teve na relação anterior. A partir de então, se distanciaram do dadaísmo, se aproximaram do catolicismo e tiveram uma forte amizade com o escritor alemão Hermann Hesse.

Depois da morte de Hugo Ball em 1927, Hennings assumiu sua propriedade e escreveu trabalhos autobiográficos, histórias, contos e lendas. Emmy Hennings morreu em uma clínica de Lugano-Sorengo, Suíça em 1948 e foi enterrada junto ao seu esposo em Gentilino.

 Apesar do grande envolvimento de Hennings com o movimento (Dada), suas contribuições únicas ainda precisam ser analisadas para além de sua relação com Hugo Ball, do qual foi companheira de longa data. Embora, ela tenha escrito vários livros sobre ela e a vida com Ball (eles ainda não foram traduzidos do alemão), o único registro de suas contribuições para o movimento Dada está espalhado pelo livro de Gerhardt Steinke, The Life and Works of Hugo Ball. O principal interesse de Steinke é mostrar como sua personalidade influenciou a ideologia e desenvolvimento artístico de Hugo Ball, e consequentemente (e sem justificativa) ele mesmo, nunca avalia as contribuições de Hennings para o dadaísmo.

Impulsiva, enigmática, criativa e em desacordo com a cultura materialista. Emmy Hennings personifica o movimento dada com o qual ela esteve intimamente envolvida. Uma artista complexa e inquieta, escreveu poesias e romances, fez bonecos e fantoches e colaborou ativamente na criação do Cabaré Voltaire. Foi uma das principais contribuintes para o caráter sensual e bombástico do cabaré, logo tornou-se sua atriz principal.

“Apareceu no centro do cabaré com fitas ao redor do pescoço, o rosto como de cera. Com o cabelo amarelo muito curto e um vestido de veludo escasso e escuro e babados rígidos, era algo completamente diferente do resto da humanidade … velho e devastado … Uma mulher tem nuances infinitas, senhores, mas é claro, não se deve confundir o erótico com a prostituição. (…) Quem pode impedir que esta menina que já é a própria histeria (…) incha para constituir uma avalanche? Coberta de maquiagem, hipnotizada com morfina, absinta e a chama cor de sangue de sua versão elétrica de Gloire, uma distorção violenta do gótico, sua voz salta sobre cadáveres, zomba deles, trilhando tocando como uma flauta canaria.” (Descrição de Emmy Hennings feita por Greil Marcus no livro Rastros de Carmín (Anagrama).

 

Referências Bibliográficas:

GONZÁLEZ, Alejandro Cortés. Emmy Hennings: Cabaret Voltaire y fundación del dadaísmo. La Raiz Invertida. 05/02/2018. Disponível em <http://www.laraizinvertida.com/detalle.php?Id=2294&gt;. Acesso em: 27 abr. 2018.

RUGH, Thomas F. Emmy Hennings and the Emergence of Zurich Dada. Woman’s Art Journal.Vol.2, No.1 (Spring – Summer, 1981). Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/1357892&gt;