Tom Zé

Nascimento: 11 de outubro de 1936
Tom Zé é cantor, compositor, arranjador e considerado uma das figuras mais peculiares e originais da Música Popular Brasileira. Além disso, possui vasto conhecimento musical, tendo familiaridade com harmonia, contraponto, estruturação, composição, piano, violão, violoncelo e história da música. Foi participante ativo da Tropicália, movimento musical que teve seu auge nos anos de 1960 no Brasil, tendo conquistado grande influência no cenário musical do país. Tom Zé chama atenção pelo seu estilo artístico livre e original, cativando a plateia através de canções excêntricas e comportamento peculiar, envolvendo improvisações e críticas inteligentes no conteúdo de suas composições. O artista segue lançando novas canções, álbuns e fazendo shows por todo o Brasil.

 

Pesquisa realizada por: Cadu Mascarenhas (Discente de Teatro da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO)

 

Galeria de fotos:

 

Links de vídeos:

https://www.youtube.com/watch?v=z6b8ilaETyI&t=453s

https://www.youtube.com/watch?v=TE7jkrfV76

 

Mais sobre sua biografia:

Antônio José Santana Martins, cantor e compositor, nasceu em 11 de outubro de 1936. Natural de Irará, Bahia, Tom Zé era integrante ativo do movimento musical “Tropicália” nos anos 60 e a partir dos anos 90 ganhou fama internacional após ser conhecido pelo músico David Byrne.

Tom Zé nasceu em uma família que enriqueceu através de um golpe de sorte do destino, pois foram premiados por um bilhete de loteria. Começou a se interessar pela música ainda na adolescência e logo começou a estudar violão, destacando-se a formação acadêmica pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).

No início da carreira, o músico estreou como compositor e cantor em um programa de TV chamado “Escada para o Sucesso”. A canção apresentada foi “Rampa para o Fracasso”, cuja composição foi baseada na colagem de fragmentos de notícias dos jornais de Salvador. Utilizando-se de uma performance cômica, logo chamou a atenção e a apresentação foi um sucesso, garantindo a atuação de Tom Zé na TV por várias outras vezes.

A Tropicália formou a parceria entre o músico em questão e grandes nomes da música brasileira, tal como Caetano Veloso, Maria Betânia, Gilberto Gil, Gal Costa e Djalma Corrêa. A parceria se firmou em grandes espetáculos no Teatro Castro Alves, em Salvador. Gravou o disco “Grande Liquidação”, em 1968 e registrou sua participação no álbum “Tropicália ou Panis et Circensis”, naquele mesmo ano. Há de se mencionar a forte veia crítico-irônica que marcava a contribuição do músico para o Tropicalismo, podendo-se citar como exemplo duas das mais conhecidas canções: “2001” e “São São Paulo, meu amor”, que venceu o IV Festival de MPB da TV Record, também no ano de 1968.

Tom Zé, no entanto, teve suas diferenças com os demais integrantes do grupo, razão pela qual se afastou do movimento artístico da Tropicália. Muito embora tenha seguido em carreira solo, o trabalho por ele desenvolvido não despertou a atenção do público nos anos seguintes, décadas de 70 e 80. Chegou a ser chamado de “Trótski do tropicalismo”, em referência ao marxista cuja participação na Revolução Russa foi apagada durante o governo de Stalin. Um resquício de popularidade ainda foi mantido pela canção “Se o caso é chorar”, de 1972. Podem-se mencionar como motivos responsáveis pela queda na popularidade de Tom a inovação e a inquietação crítica que compuseram as músicas do artista. Ainda que em aparente decadência, não deixou de realizar projetos, como músico experimentalista, investiu na criação de uma orquestra de instrumentos inusitados: enceradeiras, aspiradores, vassouras, martelos e muitas outras coisas.

Através de suas experimentações musicais baseadas, produz investigações na incorporação e adaptação de práticas realizadas no campo da música erudita de vanguarda do século XX, por mestres como o austríaco Arnold Schoenberg e o norte-americano John Cage e, ainda, Koellreutter e Ernst Widmer, seus professores na Escola de Música da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Correlacionando a pesquisa erudita às práticas de estilos populares brasileiros, desenvolve aparelhos musicais que receberam designações como enceroscópio ou buzinório, nomes inexistentes na língua portuguesa. Surgem também letras de músicas neste mesmo sentido, trabalhando com poesia concreta, como por exemplo  na canção Vai (Menina Amanhã de Manhã – parceria de Elton Medeiros), de 1971, na qual palavras com sentidos muito diferentes são associadas pela semelhança do som de suas vogais: “A felicidade / É cheia de pano / É cheia de peno /… sino /… sono /… ano /… Eno /… hino /… ONU”.

Curioso também ressaltar que Tom Zé se apropria de certas ideologias concretistas que tem como exemplo a crítica à ideia de que a obra de arte seria fruto da criação de espíritos elevados. Com isso, o compositor decide, junto com uma indicação do poeta concreto Décio Pignatari, estampar na capa do disco “Todos os Olhos” a fotografia misteriosa de um olho. Esse olho, na verdade, se trata de uma bola de gude posicionada sobre o ânus de uma modelo fotográfica. Essa capa passa despercebida pela censura do regime militar em pleno ano de 1973, auge da repressão militar com o governo de Emílio Garrastazu Médici.

Somente no final dos anos 80 o músico conquistou a simpatia de David Byrne, o que foi determinante para o lançamento de sua obra nos Estados Unidos. Dessa forma, aos poucos foi recuperando as graças da plateia pelo Brasil, Europa e Estados Unidos, com o álbum “Com Defeito de Fabricação”, em 1998 (eleito um dos dez melhores álbuns do ano pelo The New York Times). Tom Zé compôs também, na década de 1990, música para balés do Grupo Corpo, criando composições baseadas na colagem de fragmentos.

Infelizmente, foi necessário que um artista estrangeiro valorizasse o trabalho de Tom para que sua genialidade fosse minimamente reconhecida no Brasil. Ciente de que o público brasileiro ainda não está pronto para assimilar a qualidade do trabalho, ao pisar no palco de um programa de auditório, a primeira coisa que Tom Zé diz para a plateia é: “Eu sei que vocês não gostam do estilo, mas tenham um pouco de paciência minhas queridas”.

Interessante também mencionar a marca deixada no trabalho de Tom Zé pelo fanatismo que devota ao Corinthians, tendo feito em 1990 uma música em homenagem ao jogador Neto, “Xodó da Fiel”, fazendo referência à não convocação do esportista para a Seleção Brasileira na Copa do Mundo naquele ano.

No ano de 2006 Décio Matos Jr lançou um filme sobre a vida e a obra do artista, documentário que recebeu o nome “Fabricando Tom Zé”. Em 2014 foi lançado o disco Vira Lata na Via Láctea, acompanhado pelo show “Canções Eróticas para Ninar”. Empregou um título parecido ao álbum posterior, “Canções Eróticas de Ninar”, de 2016. A temática tratada era sobre a questão de que durante a infância e adolescência de Tom Zé na Bahia, o músico não recebeu uma educação sexual formal.

A figura do “homem na mala” era uma forte influência para as performances de Tom Zé. Este era um personagem popularmente conhecido no interior do Brasil. Tratavam-se de viajantes que passavam pelas pequenas cidades vendendo os mais variados produtos. Tais pessoas usavam as praças públicas como palco para promover seus produtos e aumentar as vendas, demonstrando de maneira divertida e animada a utilidade dos produtos.

Tom Zé relata que se maravilhava com a capacidade do “homem da mala” em transformar um local corriqueiro e simples em um palco e improvisado, colocando-se como artista ante a uma plateia, tendo como amparo apenas a capacidade de improvisar e entreter as pessoas pela persuasão e narrativa.

 

Referências bibliográficas:

Tom Zé, biografia. Disponível em <https://originaconteudo.com.br/2013/05/22/tom-ze-biografia/>. Acesso em 22 jun. 2018

Tom Zé: site oficial. Disponível em <http://www.tomze.com.br/&gt;. Acesso em 22 jun. 2018.

Tom Zé. Enciclopédia Itaú Cultural. Disponível em <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa12643/tom-ze>. Acesso em 22 jun. 2018.